“É uma epidemia silenciosa e que pode ser prevenida”
No Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e Valorização da Vida, a psiquiatra do TRE-BA, Ive Querino, reflete sobre a campanha Setembro Amarelo e sobre o tema no contexto da pandemia de Covid-19

Todo ano, cerca de 10 mil pessoas tiram a própria vida no Brasil. Em escala global, essa estatística ultrapassa um milhão de casos. É uma epidemia silenciosa e que pode ser prevenida. Neste 10 de setembro, Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, a psiquiatra do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia, Ive Querino, reflete sobre a campanha Setembro Amarelo e aborda o tema no contexto da pandemia de Covid-19.
No mês de setembro, este assunto é pautado pela campanha internacional de Prevenção ao Suicídio e Valorização da Vida. Segundo a psiquiatra do TRE-BA, 96,8% dos casos estão relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar, estão os casos de depressão, seguidos de transtorno bipolar e abuso de substâncias. “O mais importante quando se detecta qualquer sinal, que vão de pensamentos e planos até a tentativa, deve ser a busca pelo tratamento especializado, com psiquiatra e psicólogo”, afirma.
De acordo com Ive Querino, a pandemia de Covid-19 aumentou os fatores de risco para o suicídio, como, por exemplo, o desemprego ou a perda econômica, além de traumas, abuso, transtornos mentais e dificuldades no acesso à saúde. “Por isso é ainda mais importante falar sobre isso abertamente e de forma responsável”, diz a psiquiatra.
A ideia é que, mesmo com o distanciamento físico, as pessoas permaneçam conectadas com familiares e amigos, aprendam a identificar os sinais de alerta, e o mais importante, incentivem a busca pelo tratamento adequado. De acordo com a especialista, o estigma e o preconceito ainda são fatores que impedem uma abordagem adequada ao comportamento suicida.
Toda pessoa que fala sobre suicídio, pontua Ive Querino, tem risco em potencial e merece atenção. Segundo a psiquiatra, não é verdade que quem fala que vai se matar, não se mata. Ouvir com atenção e empatia, sem julgamentos, é fundamental. “Frases como: ‘Você não tem motivos para estar assim’ ou ‘Isso é falta de Deus’ só atrapalham. Nesses casos, a orientação é incentivar a pessoa a buscar o tratamento adequado”.
Tema complexo
Em debates sobre o suicídio, há quem questione o enfrentamento considerando o direito que cada pessoa teria de querer viver ou não. Para a psiquiatra Ive Querino, é um mito tratar a questão a partir de uma perspectiva individual. “Os suicidas, em sua grande maioria, estão no curso de uma doença mental que altera, de forma radical, a percepção da realidade e interfere no livre arbítrio”.
A médica explica que o tratamento eficaz da doença mental é o pilar da prevenção do suicídio. Após o tratamento, ela conta, quase sempre o desejo de se matar desaparece. Igualmente importante na prevenção, ela destaca, é estar atento às “bordas da vida”, tendo em conta que o suicídio entre jovens aumentou nas últimas décadas, assim como entre idosos e pacientes com doenças crônicas, degenerativas e dolorosas.
Trata-se de um processo com muitas determinantes, resultado de uma vasta interação de fatores psicológicos e biológicos, inclusive genéticos, culturais e socioambientais, conceitua a especialista. “Dessa forma, o suicídio deve ser considerado como o desfecho de uma série de fatores que se acumulam na história do indivíduo, não podendo ser relacionado simplesmente a determinados acontecimentos da vida do sujeito”.
Setembro amarelo
Desde 2003, o dia 10 de setembro é considerado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Em 2015, foi iniciada a campanha brasileira Setembro Amarelo. O principal objetivo é conscientizar as pessoas sobre a prevenção, alertando sobre a realidade no Brasil e no mundo.
Como o tema ainda continua sendo tabu e as pessoas têm receio de falar sobre isso, o Setembro Amarelo busca justamente desfazer mitos por meio do diálogo. A informação qualificada, defende a campanha, é um instrumento fundamental no enfrentamento do problema.
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Pra cego ver: Foto de duas pessoas segurando as mãos com a logo do TRE-BA e o slogan Justiça, cidadania e serviço