TRE-BA visita comunidade Quilombola Quingoma para dialogar sobre democracia e cidadania

Equipe do Tribunal conversou com moradores e lideranças para compreender a realidade local e aperfeiçoar o acesso dos quilombolas ao sistema da Justiça Eleitoral

Pra todos verem: imagem 01 mostra um desenho em uma parede de um ambiente. Aparece o mapa do ter...

O Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA) esteve na comunidade Quilombola Quingoma, em Lauro de Freitas, para conversar sobre democracia e Justiça Eleitoral. A visita integrou a agenda institucional do Tribunal - em consonância com a Resolução nº 599, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que institui a Política Judiciária de Atenção às Comunidades Quilombolas - para aperfeiçoar o acesso dos povos originários ao sistema de justiça no âmbito eleitoral. 

Além disso, buscou-se compreender melhor como esse público vive, expressa sua cultura e se organiza politicamente para exercer o direito soberano ao voto — não apenas no dia da eleição, por meio da escolha de seus representantes, mas também na forma como praticam a educação para a cidadania.

História

O território, situado numa localização privilegiada (próximo à capital da Bahia, Salvador, e ao litoral norte do estado) possui 1.284 hectares, abriga 3.064 moradores e é cercado por uma vegetação remanescente de Mata Atlântica, sinalizando proteção ambiental, ainda que diante das pressões urbanas e imobiliárias.

Datado de 1569, as famílias que lá vivem estão na oitava geração dos ocupantes da área. Em 2013, o Quingoma foi reconhecido oficialmente pela Fundação Cultural Palmares, instituição vinculada ao Ministério da Cultura, como remanescente de Quilombo. O título simboliza a legitimidade da memória, da ancestralidade e do direito à permanência no território. “A história é que o nosso povo usava a inteligência para fugir do capitão do mato. Quin é atabaque e goma cabeças inteligentes”, explicou Raquel Conceição, moradora do local, sobre o significado do nome da comunidade.

Raquel Conceição Pereira é uma senhora de 61 anos, nascida e criada no Quingoma. De fala e aparência tranquilas, bem como de um posicionamento firme, ela compartilhou com a equipe do TRE-BA histórias sobre suas vivências e a de seus antepassados. “Chegamos ainda no século XVI. Minha avó foi liderança aqui, meu pai também, minha mãe e agora eu também sou. Vivíamos da roça, das plantas, das frutas, da caça, da pesca.  A gente gerava o nosso próprio alimento daqui de dentro”, contou. 

Quando questionada sobre os rumos atuais do Quilombo, ela tem um tom de consternação, considerando o avanço de construções irregulares, o desmatamento e a violência. “Quase tudo está perdido, estamos aqui nessa luta pra não deixar se acabar. Antes, a gente tinha liberdade de brincar, de viver uma vida na qual hoje a gente não tem mais.  Tudo isso dói no fundo da alma dos quilombolas”, lamentou a moradora.

Confira as fotos

Política e democracia 

A comunidade apresenta demandas quando o assunto é prestação de serviços públicos de infraestrutura no local. De acordo com a moradora, diversas solicitações foram feitas aos órgãos competentes, mas não houve avanço. “Até hoje não conseguimos nada. “Queremos uma escola quilombola, um posto médico que aqui não tem. Chegam muitos candidatos aqui, mas quando ganham, nem pra cá olham”, comentou a quilombola.

Ainda assim, Raquel Conceição Pereira não perde a confiança no processo democrático brasileiro e demonstra esperança de que as mudanças possam ocorrer através do voto. “Eu acredito nos que estão vindo agora. Não existe passado. Existe futuro. Comecei a votar com 21 anos . Eu só deixo de votar quando eu não aguentar mais andar”, declarou. 

Confira mais detalhes da entrevista no vídeo.

Novas gerações 

Rosemeire Santos, 36 anos, líder quilombola faz parte da nova geração de lideranças locais, formada majoritariamente por mulheres, da Associação do Quilombo Quingoma. Rose, como é chamada, é neta de Vovó Romana - já falecida -, sambadeira, parteira, marisqueira e uma das matriarcas da comunidade, responsável pelo legado deixado para a atual geração e inspiração para a continuação da luta pela preservação do território.  “Sou mãe de Riane, de 13 anos, e eu me preocupo muito com a construção do futuro que a minha filha vai ter se a gente não mudar o presente”, disse.

Além do espaço utilizado para reuniões mensais de debate, organização e articulação de questões de interesse do território, a comunidade possui outros projetos, também liderados por mulheres, a exemplo do coletivo Yá (mãe), que realiza o turismo de base comunitária, e o atelier de moda afro Yá.  Na gastronomia, destaca-se a ação Cozinha Coletiva. A comunidade tem ainda uma equipe de comunicação formada por jovens do próprio território. 

“Eu acredito que toda essa organização já é uma forma da gente fazer política aqui dentro, é uma forma de dizermos que temos força, que nós podemos chegar à Brasília, à Câmara Municipal e ao Centro Administrativo da Bahia. Se a gente tivesse mais mulheres na política, assim como temos envolvidas nas atividades do Quilombo, poderíamos construir uma política onde o Brasil seria mais sensível a todas as questões sociais que assolam o nosso país, que assola nossa comunidade quilombola como um todo”, refletiu Santos.

Representatividade

Indagada sobre a participação da comunidade na política partidária, a líder do quilombo revela que a questão é pauta constante entre os moradores e manifesta o desejo de algum dia eleger um representante local, que, de fato, esteja inteirado das situações dentro da associação. “A gente sabe que uma mulher incomoda e uma mulher preta incomoda muito mais. A quilombola incomoda o triplo. Não é de interesse dos políticos verem uma quilombola preta, ousada, dentro da câmara”, concluiu.  

Enquanto esse dia não chega, Rosimeire Santos continua lutando e defendendo o território onde nasceu, resistindo para que as novas gerações possam se apropriar de um lugar que legalmente pertence a eles(as). “Ser quilombola é trazer toda uma história ancestral. A extensão do meu corpo é a terra quilombola. Se a gente não cuida do território, não cuidamos da gente, não existimos. Mesmo com  nossos direitos rasgados diariamente, ainda assim é preciso existir”, reforçou.

Imagem 02 mostra duas mulheres negras sorrindo. Uma senhora de 61 anos, que veste vestido azul e...

Atividades

Após a visita, que aconteceu em setembro deste ano, o Regional baiano está estudando levar serviços da Justiça eleitoral, por meio do projeto itinerante TRE em Todo Lugar, para a comunidade no primeiro semestre de 2026.

Pra todos verem: imagem 01 mostra um desenho em uma parede de um ambiente. Aparece o mapa do território quilombola do Quingoma, o rosto de uma mulher idosa e vários triângulos, nas cores verde, amarela e vermelha, e em formatos variados. Na parede tem escrito “Espaço Cultural Vovó Romana”, tem três . No espaço também tem duas mesas feitas de madeira.

Imagem 02 mostra duas mulheres negras sorrindo. Uma senhora de 61 anos, que veste vestido azul estampado, e uma adulta de 36 anos, que veste vestido na cor verde. Elas seguram nas mãos dois livros. Próximo a elas tem manequins com roupas e uma estante com livros, colas e materiais de costura.

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